Iniciativa alcança a maioridade e possibilita a milhares de pessoas sair do analfabetismo e conquistar a cidadania
Por David Telles
redacaoiurd@arcauniversal.com
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O Projeto Ler e Escrever, desde a sua criação, em 1989, já atendeu gratuitamente a milhares de alunos nos estados do Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal. A iniciativa, que agora “completa sua maioridade”, foi tão bem-sucedida que ultrapassou fronteiras e países como Argentina, Angola, Moçambique e Portugal.
Independentemente do idioma, pessoas que não conseguem ler ou escrever encontram as mesmas dificuldades para se relacionar com o mundo moderno e alcançar a cidadania plena. Para a coordenadora do Projeto Ler e Escrever, Mônica Santos, os analfabetos vivem constantemente em situações de desemprego ou subemprego. “Todos os alunos, que estão matriculados e assistindo às aulas em nossas turmas, têm um grande potencial e terão um resultado positivo na vida deles. O analfabeto é muito discriminado e enfrenta muitas dificuldades”, afirma.
De acordo com a coordenadora pedagógica Fátima Marques, o Brasil tem atualmente cerca de 16 milhões de analfabetos e metade deste número está concentrada em menos de 10% dos municípios do País, segundo uma pesquisa divulgada pelo próprio Ministério da Educação (MEC). “Levando-se em conta o conceito de analfabeto funcional, que inclui pessoas que mesmo concluindo alguns anos de escolaridade não conseguem interpretar um texto, este número salta para 33 milhões”, ressalta.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, apontam que 10% da população brasileira está enquadrada na classificação de analfabeta e as autoridades trabalham para reduzir esse índice para menos de 4% até o final da década. Esse patamar é considerado aceitável pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). “A metodologia e o conteúdo desenvolvidos pelo Projeto Ler e Escrever atendem as definições da LDB nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) e do PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais/MEC)”, acrescenta Fátima Marques.
O Ler e Escrever deve crescer ainda mais nos próximos anos. A expectativa de todos os envolvidos nesta iniciativa é de aumentar o número de turmas. “Podemos avançar muito, pois trabalhamos com jovens e adultos. Os que têm mais idade enfrentam um pouco mais de dificuldade, mas têm uma grande força de vontade. Essa iniciativa resgata a autoestima do ser humano. Hoje nós temos idosos no “Projeto Idade Feliz” que foram alfabetizados pelos nossos professores e podem ler a Bíblia diariamente, beneficiando-se da Palavra do Senhor”, destaca Mônica Santos.
Uma nova cidadã
Maria André Gomes de Moura (foto ao lado), de 45 anos, doméstica, diz que já pode ler a Bíblia e escreve quase tudo. “Quando era criança, meus pais me colocaram em várias escolas, mas eu tinha dificuldade de aprender e abandonava os estudos com vergonha. Trabalhava com meus irmãos na lavoura com uma enxada. Minha mãe levava a comida para nós no roçado, esticávamos um plástico e ali mesmo fazíamos nossas refeições. Trabalhávamos até o anoitecer. Não existia tempo para estudar. Nem com uma tia, que era professora eu consegui aprender” recorda.
O analfabetismo humilhava a aluna matriculada na Unidade de Ensino Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro. “Quando fui tirar meus documentos, não sabia assinar e minha identidade constava a inscrição ‘ANALFABETA’ em letras maiúsculas. Logo que aprendi, tirei uma nova identidade e assinei meu nome sem copiar. Aqui, no Projeto Ler e Escrever, as professoras têm muita paciência e carinho e isso faz com que a gente queira aprender”, conclui Maria.
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